sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Por que políticos não gostam de privatizações

Editorial

Restrições à venda de Furnas no Sudeste, da Chesf no Nordeste e ao leilão de usinas da área da Cemig em Minas mostram como há outros interesses em jogo

Sindicatos de funcionários de empresas públicas costumam ser os primeiros a levantar barricadas contra a privatização de estatais. Temem a cultura administrativa do mundo privado, onde não existe Tesouro para compensar prejuízos com dinheiro do contribuinte, nem há condescendência com maus profissionais e vigora o princípio do mérito.

O anúncio da privatização da Eletrobras e a intenção do governo de levar à leilão usinas da área da Cemig, estatal mineira, ambas as operações para ajudar no reequilíbrio fiscal da União, têm enfrentado resistência também de políticos. Mas não só por motivos ideológicos. Estes são conhecidos. Tem ficado evidente, nessa rejeição à venda de estatais, outro tipo de oposição, com origem na cultura pluripartidária do fisiologismo, e também na corrupção que costuma ser praticada no mundo das empresas públicas.

Garimpar comissões e empregar apaniguados em estatais é o sonho de muita gente. Daí, logo depois do anúncio da privatização da Eletrobras, políticos nordestinos terem passado a defender a manutenção da Chesf como estatal. Claro, alegadamente para o bem da região e dos nordestinos. Entende-se.

O mesmo acontece em relação a Furnas, com sede no Rio. Há alguns processos referentes a negócios suspeitos feitos na empresa e no seu fundo de pensão em que é citado o ex- presidente da Câmara Eduardo Cunha. O senador tucano mineiro Aécio Neves é outro que aparece em histórias sobre Furnas.

A ação conjunta da bancada mineira para o governo federal deixar quatro hidrelétricas com a Cemig — Jaguara, São Simão, Miranda e Volta Grande — é, no jargão jurídico, forte prova indiciária de que existem muitos interesses em jogo que nada têm a ver com quilowatts. A campanha é pluripartidária. Une o tucano Aécio e o petista Fernando Pimentel, o governador.

O governo conta com o leilão destas usinas para ajudar a União a atingir a meta fiscal deste ano. Como a equipe econômica conta com estimados R$ 11 bilhões provenientes dos leilões, os mineiros negociam com o BNDES um exótico empréstimo à Cemig, para a estatal mineira ficar com as usinas, e o governo, com o dinheiro. Mas o banco chegaria apenas a R$ 9,7 bilhões. Porém, mais importante que tudo é que não faz sentido o BNDES, instituição de fomento, bancar uma operação comercial por conveniências políticas. Repete-se o relacionamento do banco com a JBS, no lulopetismo. Como Temer é um presidente fraco, tudo pode acontecer.

A administração das estatais depende do governo de turno. O que deixa tudo muito instável. Houve oito anos de Fernando Henrique, nos quais se tentou alguma profissionalização na gestão das empresas. Existiu ladroagem, confessou Pedro Barusco a uma CPI da Petrobras. Mas nada como a "corrupção sistêmica” instalada na empresa a partir de Lula, termo usado pelo próprio ex-gerente da Petrobras na área de serviços, subordinado ao diretor Renato Duque, preso em Curitiba, junto com Eduardo Cunha.

Esta é a questão: pode ser eleito um governo populista e pouco ético e desmontar as conquistas feitas em gestões anteriores. Portanto, no caso da estatais, a melhor e única alternativa sensata é vendê-las, até por precaução.

O Globo


Nenhum comentário: