sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Distritão, um vendaval

Vittorio Medioli

Atrás do nome “distritão”, incompreensível para 99 em cada cem cidadãos, esconde-se uma fórmula eleitoral que, apesar de conter alguns defeitos em sua proposição original, poderá ajudar o país a se livrar de dezenas de partidos injustificáveis e criminosos. E, ainda, reduzir pela metade as atuais 28 siglas que poluem o Congresso Nacional.

Encolheria também, profundamente, o poder dos caciques e coronéis dos maiores partidos que agora, de última hora, desceram a campo para matar essa proposta que rebaixa o poder de abandalhar o país.

Os mesmos que mandam há séculos subjugando o país e marcando-o como o mais corrupto do planeta.

Fosse o distritão apenas para se livrar deles, já que a Justiça demora, valeria e sobrariam vantagens.

Também os donos dos nanicos que chafurdam nos horários eleitorais teriam perdas significativas em sua capacidade destrutiva.

O sufrágio universal, enfim, se alinharia às hierarquias ditadas pela vontade popular.

Os eleitos teriam o peso e a legitimidade dos votos recolhidos e não seriam peças nas prateleiras de um dono “mensaleiro” de partido como Valdemar Costa Neto, o mais inflamado inimigo do distritão.

O distritão voltaria a embaralhar as cartas de um jogo perdido pelos eleitores. Cartas distribuídas por trapaças. Serraria ainda os saltos de pessoas pequenas que traficam na politicagem e que perderiam seu poder artificial.

Hoje, ao Legislativo nem sempre se chega pelos votos, mas pela esperteza e capacidade de aglutinar um conjunto de candidatos que, somados, permitem a eleição de apenas um. Esse é o atalho que condiciona as eleições das últimas duas décadas. Virou uma farsa que procura nas brechas da legislação um atalho.

O distritão com algumas alterações pode reacender o valor das ideologias no âmbito eleitoral. Poder-se-ia destinar os votos angariados pelo partido – no número do partido – para beneficiar os mais bem-posicionados depois dos mais votados.

As campanhas direcionadas ao voto para o partido seriam o apelo que amealharia muitos sufrágios.

Também eliminaria aqueles que, no vácuo de um Tiririca ou de um Enéas, levam meras nulidades ao mandato.

Não há de se pensar numa tragédia para os “ideologizados”, trata-se de uma oportunidade a ser trabalhada nessa fase de discussões. Acabariam assim as rifas eleitorais dos nanicos, que prosperam no vazio de propostas e na sombra de cálculos menores. Também o candidato avulso terá sua vez como nas melhores democracias, aquele sem vínculos com partidos.

Se o PT tem muitos votos como partido, poderá lançar dez, e não cem candidatos, concentrando seu potencial beneficiando-se do voto de legenda para puxar mais alguns. A regra estaria em escolher os melhores entre os muitos.

Ficariam sem sentido os milhares de candidatos folclóricos e berrantes que desfilam numa ópera bufa a cada eleição.

Exatamente nesse fundo conturbado os deputados encontram a concordância vergonhosa em atribuir-se R$ 3,6 bilhões, que representam uma cota individual de R$ 6,5 milhões. E, para ficar mais perverso o golpe, fecharam a data-limite de migração da cota em 10 de agosto passado. Uma forma de sequestrar a bolada e estatizar a propina das empreiteiras.

O distritão sofre de última hora o ataque do PSDB para reapresentar o sistema feudal do distrital misto, que dividirá em duas espécies os parlamentares, consagrará os caciques sem esforço e perda de tempo para se dedicar ao sistema cleptocrático sem suor e contato com o eleitor.

As leis no Brasil são quase sempre imorais e viciadas e atendem o maior ganho com o menor esforço.

Os partidos forjados como “organização criminosa” sofrerão graves perdas tratando com deputados “majoritários” mais credenciados.

Distritão tem seu lado excelente para tirar força de velhos caciques, e da malandragem, e oxigenaria o Brasil sem o risco de deixá-lo pior.

Jornal O Tempo

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