Eliane Cantanhêde
Boulos se afirma à esquerda,
Etchegoyen cresce à direita em Brasília
Se
Guilherme Boulos se afirma à esquerda e nos movimentos sociais, um outro
personagem cresce à direita e no coração do governo em Brasília: o general de
Exército (último posto da hierarquia militar) Sérgio Etchegoyen, chefe do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com sala no Planalto e presença certa
em reuniões estratégicas.
Com
Temer enfrentando batalhas de vida ou morte, os ministros políticos tentando
sobreviver à Lava Jato, os econômicos guerreando contra a crise e o comandante
do Exército doente, Etchegoyen está cada vez mais forte. Informação vale ouro,
quem tem informação tem poder e o GSI controla a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), filha encabulada do SNI de péssima memória. Logo, ele sabe
das coisas, e sabe a seu jeito.
O GSI
substituiu a Casa Militar e esteve sempre sob comando de generais, mas a
convivência entre presidentes e eles oscila entre trocas de gentileza estéreis
e ostensivo descaso. FHC, filho, neto e bisneto de militares, respeitava o
general Alberto Cardoso. Lula dava dois tapinhas nas costas no general Jorge
Felix e depois jogava no lixo, sem ler, seus relatórios. Dilma desprezava
abertamente o trabalho do general José Elito e, por fim, extinguiu o GSI nos
estertores do seu governo.
Ao
assumir, Temer tinha a determinação de recuperar a “normalidade” nas relações com
o Congresso, os agentes econômicos, as Forças Armadas e a mídia. Não pensou
duas vezes ao reativar o GSI e nomear para sua chefia um militar respeitado e
com um sobrenome de grande reverberação no Exército.
Etchegoyen
vem de uma área e de uma família para as quais a esquerda, não sem motivos,
torce o nariz, mas ele se movimenta bem na área política e não teme
jornalistas, entrevistas ao vivo, questões espinhosas. É tido como equilibrado,
legalista, um bombeiro no circo pegando fogo. É assim que participa, muito à
vontade, das reuniões – e decisões – de cúpula do governo Temer.
Atribui-se
a ele a defesa do Congresso, da política e da distinção do “joio e do trigo”:
punição diferenciada para os efetivamente corruptos e para os que usaram as
regras do jogo, como o caixa 2, mas não enriqueceram com a política. Diz-se
também que ele torce contra a prisão de Lula, em nome da preservação da
instituição Presidência da República e pelo impacto interno e externo que
poderia ter.
Consta
que Etchegoyen é quem avalia a troca ou não do diretor-geral da PF, Leandro
Daiello. Ele nega. Consta que assumirá o Comando do Exército, caso seu amigo, o
prestigiado general Eduardo Villas Boas, decida voltar para casa. Ele nega.
Consta que pôs a Abin a bisbilhotar os telefones do ministro Edson Fachin. Ele
nega. E consta que ele está cada vez mais poderoso. Ele nega veementemente.
Mas... só o fato de ter de negar tantas coisas ao mesmo tempo já diz muito.
Na
superfície, bons exemplos de sua força são na segurança pública, área que,
assim como a PF, é subordinada à Justiça. Quem coordena o plano de segurança
para o Rio é o GSI. E quem abriu uma reunião de secretários de Segurança e
chefes da Polícia Civil em Porto Alegre foi Etchegoyen, e o ministro da Justiça
só falou depois. A própria Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp),
como a Funai, está nas mãos de um general.
Assim
como muitos reagem irritados a Boulos, chove indignação quando se constata que
um general de Exército com o sobrenome Etchegoyen cresce em Brasília – em meio
a uma crise pavorosa e à descrença do atual modelo político. Mas fatos são
fatos. O que importa agora é saber quais são as ambições e objetivos do
general. Aliás, das próprias Forças Armadas.
O Estado de S.Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário