Marina Wentzel
O Brasil
está próximo da lanterna da competitividade global, aponta um relatório
divulgado nesta quarta-feira pelo instituto de pós-educação suíço IMD em
parceria com a Fundação Dom Cabral.
Segundo
o levantamento anual, apenas Venezuela e Mongólia estão em situação pior do que
o Brasil. O país está na 61ª posição dentre as 63 economias avaliadas. De
acordo com o diretor do estudo, o professor Arturo Bris, a má performance se
deve à crise política no país.
No topo
do ranking estão Hong Kong e Suíça, já haviam garantido o primeiro e segundo
lugar na edição passada, seguidos por Cingapura e Estados Unidos,
respectivamente, que trocaram de posição em relação à análise anterior.
Em 2016
o Brasil figurava na 57ª posição, mas caiu quatro pontos porque seus
indicadores políticos e econômicos pioraram.
O
ranking, que é publicado desde 1989, avalia o perfil dos países com base em
quatro pilares: performance econômica, eficiência de governo, eficiência
empresarial e infraestrutura.
Por meio
de uma estimativa baseada em estatísticas compiladas sobre essas categorias, um
país é comparado com o outro. Os dados utilizados para a edição atual são
referentes ao período de janeiro a abril deste ano.
Na
performance econômica, o Brasil recuou de 55 para 59, na eficiência do governo
piorou de 61 para 62, na eficiência empresarial foi de 51 para 49 e na
infraestrutura, caiu de 46 para 51.
A
intenção do estudo é servir de referência para a criação de políticas públicas
que gerem prosperidade para os indivíduos do país. No caso do Brasil, o país
está falhando porque a crise de desgoverno não estão levando em consideração o
interesse da sociedade, explica Bris.
"O
Brasil é o caso clássico em que o setor público é um obstáculo à
competitividade do país", avaliou Bris em entrevista à BBC Brasil.
Corrupção
Apesar
de defender a necessidade de reformas no país, o professor avalia que não é
sustentável nem eficiente tentar se levar adiante a pauta sem resolver a
questão da corrupção primeiramente.
"A
percepção do mercado (sobre o Brasil) é muito negativa, o país está entre os
dez piores para se fazer negócios. O setor privado não acredita no governo.
Eles não podem tomar a tarefa de investir e criar empregos para deixar o país
mais competitivo. Isso não vai funcionar", pondera.
O estudo
avalia que os objetivos brasileiros devem ser: acelerar a retomada econômica,
modernizar e facilitar as leis, aprovar reformas-chave e reconquistar a
confiança internacional. Para isso, é necessário desenvolver e implementar uma
estratégia de competitividade digital, além de aumentar a eficiência e
qualidade do sistema educacional.
"Competitividade
é sobre criar empregos, estimular a prosperidade de uma nação", resume Bris.
De
acordo com a perspectiva do estudo da IMD, a maior vulnerabilidade do Brasil é
a falta de visão de longo prazo, como políticas de melhora da qualidade da
educação pública e de inserção na economia digital. Esses aspectos do
investimento público são avaliados sob o tema infraestrutura e recuaram também.
Educação caiu de 51 para 55 e infraestrutura científica retrocedeu de 36 para
41.
Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na
quarta-feira apontam que 13, 6% da população economicamente ativa está ociosa.
Há uma piora em relação ao trimestre anterior - mais de 1,1 milhão de
brasileiros perderam o emprego nos últimos três meses.
O
indicador doméstico reforça a avaliação da IMD de que a situação está se
deteriorando. O total de brasileiros desempregados já chega a 14 milhões. O
número de pessoas sem trabalho é pouco menos que duas vezes a população da
Suíça (que tem cerca de 8,3 milhões de habitantes).
"Primeiramente
há que se combater a corrupção e se começar pelas escolas. O país precisa
retomar a reforma do sistema educacional. Isso não é para o curto prazo, isso é
para o longo. Essa é definitivamente uma das principais vulnerabilidades do
país", afirma o professor.
"O
investimento em educação primária tem sido muito ineficiente, sem conquistas. É
necessária uma reforma maciça."
O
instituto também lançou um ranking que mede a competitividade digital dos
países. Nesse novo índice, o Brasil foi avaliado na 55ª posição, caindo um
ponto em relação a 2016.
Políticas de campeões nacionais
A
política de subsidiar companhias brasileiras por meio de empréstimos do BNDES,
banco estatal de fomento, foi um dos marcos dos anos do PT no poder.
A
chamada promoção de "campeões nacionais" favoreceu iniciativas como
as empresas do grupo X, de Eike Batista, e a JBS, de proteína animal. Ambos os
grupos estão envolvidos agora nas investigações da operação Lava Jato.
Bris
acredita que esse tipo de estratégia pode ter resultados adversos, tudo
dependendo de como ela é gerida, pois o objetivo final para ganho de
competitividade precisa ser a criação de empregos.
"Veja
o caso da Espanha, meu país, por exemplo. Lá os campeões nacionais são
provedores de serviços que operam globalmente. Bancos como o Santander, ou
empresas de construção, ou petroleiras como a Repsol. Ter gerado esses campeões
nacionais não ajudou a reduzir o desemprego na Espanha, porque essas são
empresas que investem e crescem muito no exterior, mas não empregam tantos
espanhóis", avalia.
"Por
outro lado, veja a Suíça. Ela promove campeões nacionais como a Nestlé,
Novartis ou ABB. Essas empresas são manufatureiras, produzem muito no país e
geram uma grande quantidade de empregos. Isso ocorre não apenas porque elas
empregam diretamente, mas também porque elas possuem empresas satélites que
provêem serviços para elas", pondera.
"Se
o governo do Brasil vai criar empresas que exportam muito e fazem apenas
algumas poucas pessoas ficarem ricas, então a política de campeões nacionais
não vai funcionar."
Marina Wentzel
De
Basiléia (Suíça) para a
BBC Brasil
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