quarta-feira, 31 de maio de 2017

Macron e Putin mantêm diálogo 'franco' sobre Síria e Ucrânia

Agence France-Presse

O presidente francês, Emmanuel Macron, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, comprometeram-se nesta segunda-feira (29) a melhorar as tensas relações bilaterais, apesar de reconhecerem as divergências, durante conversa em um encontro no Palácio de Versalhes classificado como "extremamente franco" pelo anfitrião.

A primeira reunião entre os dois presidentes desde que Macron chegou ao poder deu outra oportunidade ao francês de demonstrar suas habilidades diplomáticas após o primeiro encontro, na semana passada, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, selado com um firme aperto de mãos.

Desta vez, o cumprimento foi mais afável, mas os dois líderes mantiveram um tom cauteloso diante da imprensa ao fim de uma hora de reunião, organizada no mesmo dia do 300º aniversário da visita do czar Pedro, o Grande a Versalhes.

Putin admitiu diferenças de opinião durante a conversa que versou, entre outros temas, sobre os conflitos da Síria e da Ucrânia. Ele insistiu, porém, em que as relações franco-russas resistem a "todos os pontos de atrito".
"Divergimos em um número de questões, mas pelo menos falamos sobre elas", declarou Macron.

"Nossa prioridade absoluta é a luta contra o terrorismo e a erradicação de grupos terroristas e, em particular, do Daesh", afirmou, referindo-se ao grupo extremista Estado Islâmico.

Órgãos de propaganda
Macron se mostrou a favor de "uma transição democrática" que preserve o Estado sírio, assegurando que os "Estados falidos" no Oriente Médio sempre aumentaram o risco de ataques extremistas no Ocidente.

No que pareceu uma advertência ao presidente sírio, Bashar al-Assad, e à Rússia, Macron assegurou que o uso de armas químicas na Síria é "uma linha vermelha muito clara" para ele e que, caso volte a acontecer, provocará uma "resposta imediata" da França.

Os dois presidentes também falaram sobre as sanções impostas à Rússia, devido a seu suposto envolvimento militar na Ucrânia e às acusações de ingerência na recente campanha presidencial francesa.

Putin ressaltou que as "sanções" a seu país não contribuem para a solução do conflito entre as forças do governo e os rebeldes apoiados pelo Kremlin no leste da Ucrânia.

O presidente russo, que recebeu a candidata de extrema direita Marine Le Pen durante a campanha eleitoral, também minimizou as acusações de que hackers russos teriam-se infiltrado na campanha de Macron.

"Talvez fossem hackers russos, talvez não", desconversou.
Macron responsabilizou os meios de comunicação próximos ao Kremlin - a emissora Russia Today e a agência de notícias Sputnik -, acusando-os de terem agido como "órgãos de influência e de propaganda" contra sua campanha, ao questionar sua sexualidade e suas relações com o setor financeiro.

A redatora-chefe do Russia Today, Margarita Simonyan, reagiu lamentando que "o que começou como uma conversa produtiva entre os líderes de dois países se converteu em outra oportunidade para Macron lançar acusações sem fundamento contra o jornal".

Repressão aos homossexuais
Emmanuel Macron prometeu um "diálogo exigente" e "sem nenhuma concessão" com Vladimir Putin. Este pediu ao presidente francês, por sua vez, que "supere a desconfiança mútua", em uma mensagem na qual o felicitou pela vitória eleitoral.

Quebrando a discrição sobre o tema dos direitos humanos mantida pelo presidente anterior, François Hollande, a atual Presidência francesa disse que sua pasta diplomática recebeu várias ONGs para abordar a situação dos homossexuais na Chechênia e as liberdades na Rússia.

A Anistia Internacional estimulou Macron a "pressionar" o presidente russo e denunciou a perseguição aos homossexuais na Chechênia, "com total impunidade" e "com a bênção das autoridades russas".

Neste sentido, depois do encontro bilateral, Macron afirmou que Putin se comprometeu a estabelecer "a verdade" sobre as denúncias de repressão aos homossexuais.

"O presidente Putin me disse que tomou várias iniciativas sobre os LGBTs [lésbicas, gays, bissexuais e transexuais] na Chechênia, com medidas destinadas a chegar a toda a verdade sobre a atuação das autoridades locais", explicou na coletiva.

"Expressei as expectativas da França de maneira muito precisa", declarou Macron, prometendo se manter "vigilante" a esse respeito e garatindo que ambos os líderes concordaram com rever essa situação regularmente.

O jovem chefe de Estado francês, de 39 anos, encerra uma maratona diplomática que o levou à cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas na última quinta-feira (25) e, no fim de semana, ao G7 de Taormina, uma ilha da Sicília.

"Donald Trump, o presidente turco [Recep Tayyip Erdogan] e o presidente russo estão em uma lógica de relação de forças, o que não me incomoda", constatou Macron.

AFP

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