sexta-feira, 5 de maio de 2017

Lógica e Honestidade

Renato Sant’Ana

Em 2007, rebatendo vaias feitas a Lula, Luis Fernando Veríssimo escreveu: "(...) antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado". E malandramente prosseguiu: "Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros." E "os outros" era lacuna a ser preenchida com os preconceitos que o ativismo esquerdista plantou na mente do brasileiro, cuja síntese velhaca é "gente contra os pobres".

A lógica de Veríssimo é impecável. Porém, (atenção!) "lógico" não quer dizer "verdadeiro" nem "honesto". Lógica perfeita, com premissas falsas, pode induzir-nos a erro. Acaso terá Veríssimo dito o mesmo quando ativistas de esquerda inventaram uma "paralisação" (28/04/17) para atacar a Lava Jato e defender criminosos que arruinaram o país?

Não com o intuito do cronista, mas como contraveneno, vale tomar a literalidade do seu argumento, partindo-se de premissas verdadeiras que se fundam nesta questão: quem, e com que propósito, tentou paralisar o Brasil?

Em seu blog, o mestre Políbio Braga acertou na mosca: "A greve geral que as centrais sindicais do lulopetismo e seus aliados convocaram (...) é apenas um aparente protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência que tramitam na Câmara dos Deputados, mas tem o objetivo oblíquo de defender os bandidos da Lava Jato." Quem, esclarecido e honesto, se deixaria enganar?

Retomemos a literalidade da advertência com que Veríssimo intitulou seu panfleto lulopetista em2007: "Antes de entrar num coro, olhe em volta". Seria perfeito dizê-lo hoje, porque a tal "paralisação" foi um truque para atrair insatisfeitos semiconscientes, criar um clima envolvente para atacar Sergio Moro, difundir o mito da inocência dos canalhas presos pela Lava Jato e sacralizar o lulopetismo.

O remédio amargo das reformas é necessário e, portanto, desejável. Mas há o sério risco de ser ministrado segundo uma fórmula nada republicana. Quem pode confiar em Brasília? Daí, a pressão da opinião pública sobre o governo seria de todo conveniente. Mas há uma inversão de valores: em sua perversa lógica do "quanto pior melhor", elite burocrática da esquerda não quer o sucesso das reformas e, para impedi-lo, ataca-as em vez de empenhar-se em pô-las nos trilhos da racionalidade. Eis a farsa da "paralisação".

Ir contra essa turma definitivamente não significa apoiar o governo. Significa, isto sim, antes de tudo, não se deixar usar por vassalos do Foro de S. Paulo (como os donos dos sindicatos). Significa não entrar no coro dos que, fazendo discursos em defesa "do trabalhador", roubaram os fundos de pensão, condenando exatamente TRABALHADORES (aos milhões) a uma velhice penosa. Significa não ser massa de manobra dos que meteram a mão na Petrobras e agora querem, a qualquer custo, parar a Lava Jato.

Significa repudiar aqueles que, por baixo do pano, mandaram BILHÕES do BNDES para financiar projetos em "ditaduras amigas", enquanto a infraestrutura no Brasil era negligenciada. Significa rejeitar um sindicalismo truculento, desonesto e bem pago, que funciona como mera extensão dos partidos da esquerda mais rancorosa. Significa defender o direito de o empregado sindicalizar-se ou não (livre do imposto sindical, herança fascista do Estado Novo).

O que estamos vendo é uma "esquerda retrô" tentando reeditar a agitação dos anos 1980-90. Conseguirá? Naquele tempo, o Brasil ainda não tinha amargado a experiência de um governo de bandeira socialista. Estávamos propensos à ilusão do "novo", a abraçar utopias, a acreditar no discurso salvacionista e a ir na conversa fiada de quem se dizia imaculado. Mas os 13 anos de petismo no governo federal, sem falar das experiências locais, serviram para revelar o desastre que é um governo populista. É verdade que há patetas regressivos repetindo erros antigos. Ao que parece, contudo, a maioria já não se deixa iludir, repudiando a violência promovida pela esquerda em 28/04 sem a qual o Brasil teria funcionado normalmente. Ah, e os profetas aloprados, do coitadismo e da viralatice, como Veríssimo, estão ficando démodé...

Alerta Total 

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