sábado, 20 de maio de 2017

Fragilizado, Trump deixa os EUA para viagem perigosa

Agence France-Presse

Riad, Jerusalém, Belém, Roma, Bruxelas e Sicília: o presidente Donald Trump, em dificuldades em Washington, inicia nesta sexta-feira uma viagem que será acompanhada de perto nas capitais de todo o mundo.
O presidente americano decolou nesta sexta de Washington, a bordo do Air Force One, acompanhado por sua esposa, Melania, e sua filha, Ivanka, constatou um fotógrafo da AFP.

Esta primeira viagem prolongada - cinco países em oito dias, uma série de reuniões bilaterais, do rei saudita Salman, passando pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pelo papa Francisco - promete ser um exercício difícil para o presidente dos Estados Unidos.

A avalanche de revelações que precedeu sua partida o colocou em uma posição delicada em seu país e reavivou dúvidas sobre a sua capacidade de desempenhar a função presidencial na presença de seus contrapartes.
Nesta sexta, o jornal Washington Post publicou que, segundo fontes anônimas ligadas às investigações, os interrogatórios do FBI sobre possíveis vínculos da campanha de Trump com a Rússia se estenderam a um alto funcionário que trabalha atualmente na Casa Branca como uma "pessoa com significativo interesse".

O New York Times revelou que Trump tinha qualificado em 10 de maio como louco o ex-diretor do FBI James Comey, um dia depois de tê-lo demitido, durante encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov, no Salão Oval.

"Acabo de demitir o chefe do FBI. Estava louco, completamente pirado", teria dito Trump ao diplomata, segundo um informe oficial sobre a reunião, redigido pela Casa Branca e que foi lido ao New York Times.
Os conselheiros do presidente imprevisível, de 70 anos, afirmam que seu estilo "amigável, mas franco" é uma garantia de eficiência nas relações internacionais.

O magnata do ramo imobiliário, que tenta ajustar suas incendiárias declarações de campanha, terá de explicar como seu lema favorito, a "América primeiro", é compatível com o multilateralismo.

"O presidente sabe que 'América primeiro' não significa 'Estados Unidos sozinhos', muito pelo contrário", declarou o general H.R. McMaster, seu conselheiro de Segurança Nacional. Mas, além da frase, muitas questões permanecem.

Discurso sobre o Islã
Em Riad, aonde chegará no sábado, Trump deverá se esforçar para marcar o contraste com seu antecessor, que despertou a desconfiança das monarquias sunitas do Golfo.
Um poderoso discurso contra o Irã xiita, silêncio sobre questões de direitos humanos, provável anúncio de contratos de armas, são os ingredientes para que a recepção seja boa.

Mas o presidente faz uma aposta arriscada ao pronunciar na capital saudita, para mais de 50 líderes de países muçulmanos, um discurso sobre o Islã.
"Vou chamá-los a combater o ódio e o extremismo", prometeu antes da viagem, citando uma "visão pacífica do Islã".

Em Israel, onde espera impulsionar a ideia de um acordo de paz com os palestinos, Trump se reunirá com seu "amigo" Benjamin Netanyahu (em Jerusalém), e com o presidente palestino Mahmud Abbas (em Belém, nos territórios palestinos ocupados).

O encontro com o papa Francisco no Vaticano terá um aspecto singular, uma vez que as posições dos dois homens são diametralmente opostas em questões como a imigração, refugiados ou mudanças climáticas.
A Europa, onde Trump semeou confusão com declarações contraditórias sobre o Brexit, o futuro da União Europeia e o papel da Otan, será a última etapa de sua turnê com uma reunião cúpula da Aliança Atlântica em Bruxelas e outra do G7 em Taormina, na Sicília.

"Ele vai investir na relação com os aliados do outro lado do Atlântico como todos os seus antecessores fizeram desde Pearl Harbor?", pergunta-se Charles Kupchan, ex-assessor de Barack Obama.

Trump "chegou ao poder sugerindo que não e depois sugeriu que talvez. Todo mundo vai ficar aguardando", acrescentou.

Viagem de Nixon em 1974
A percepção da viagem nos Estados Unidos também será crucial. Consciente de que a ameaça terrorista é uma questão de preocupação central, o presidente republicano espera voltar com compromissos concretos com seus aliados na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Mas, quaisquer que sejam as impressões de sua viagem, não serão suficientes para fazer esquecer os casos que sacodem a presidência em Washington.

Para Bruce Riedel, um ex-oficial da CIA e agora analista do Brookings Institution, uma comparação que naturalmente vem à mente é a viagem ao Oriente Médio em 1974 de Richard Nixon, que esperava um sucesso diplomático "para desviar a atenção do escândalo Watergate".

"Isso não funcionou, a imprensa americana se concentrou implacavelmente sobre Watergate, tratando a viagem como um acessório, enquanto as revelações continuavam a se acumular", lembra ele.

Agence France-Presse (AFP)

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