quinta-feira, 13 de abril de 2017

‘Não se pode considerar normal um negócio desses’, diz Marcelo sobre relação com Mantega

Fausto Macedo
(*)

Em delação premiada, empreiteiro revela o dia a dia com ex-ministro da Fazenda
Em sua delação premiada, o empreiteiro Marcelo Odebrecht reconheceu que era “errada” a sua relação com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. A convivência entre os dois funcionava como uma via de mão dupla: de um lado, Marcelo tinha acesso direto a Mantega, recorrendo ao ministro para resolver questões que atingiam os negócios da Odebrecht; de outro, Mantega pedia que a empreiteira, uma das maiores doadoras de campanhas eleitorais, destinasse dinheiro ao PT.

É aquela história: você cria uma relação que é errada, uma relação que não deveria precisar. A maior parte das empresas que não tem esse acesso (direto ao ministro) não consegue nem resolver seus problemas. Na verdade, de certo modo ele (Mantega) me escutava, me dava acesso à agenda, eu podia ter reuniões com ele duas vezes por semana. É óbvio que eu também tinha essa facilidade porque eu era um grande doador”, disse Marcelo.

“As coisas que a gente levava (a Mantega) eram até coisas legítimas, pra destravar um financiamento, é o orçamento do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarino). Eu não pedia nada a ele que não fosse correto, agora o errado está em que eu tinha o acesso a ele baseado em eu ser um grande doador. A grande ilicitude está aí. A gente acaba racionalizando de uma maneira errada. Mas não é normal, não se pode considerar normal um negócio desses”, reconheceu o empreiteiro.
Segundo Marcelo Odebrecht, quando Mantega o chamava para alguma reunião, já se sabia que “era para fazer o pedido de alguma coisa”.
“Ele (Mantega) me chamava pra dizer ‘Preciso que você autorize cinco pro Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT), ou não sei quanto’ e eu aí eu aproveitava que ele tinha me chamado e já metia uma pendência que eu tinha na época”, detalhou o executivo.

“Por exemplo, muitas vezes eu ia lá fazer pedido, e no final da reunião, (Mantega dizia) ‘Mas tem aquele nosso amigo, o Vaccari, o João Santana, precisa de 10 a 20’. Não era um vínculo direto, mas era como se fosse uma relação de mão dupla que ele tinha em mim um grande doador e eu tinha uma agenda e um acesso a ele”, comentou Marcelo.

Os vídeos das delações de executivos da empreiteira Odebrecht foram liberados pelo Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira, 12.

Estadão – blog Fausto Macedo

(*) Comentário do editor do blog-MBF:  é até difícil de acreditar que a administração pública do nosso país tenha baixado a este nível. Que propinas sempre houve - para quem conhece as relações entre políticos financiados e eleitos pelo caixa 2 de empresas que prosperam em função dessas relações - é sabido. O que não se sabia é que se tornou regra em vez de exceção, ao ponto de ser discutida formalmente entre alguns empresários e os principais Ministros de Estado, indicados para esta tarefa pelo próprio Presidente da República.
E pensar que o PT chegou ao Poder em grande parte em função do seu discurso sobre ética na política e na gestão dos recursos públicos.

PS.: a “ética” do PMDB já era conhecida antes da era PT. Pelo menos desde 1986.

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