sexta-feira, 21 de abril de 2017

Eleição francesa é marcada pelo ineditismo

Alexandre Schossler

Socialistas e direita quase fora do páreo, outsiders na liderança das pesquisas, eleitores apáticos e indecisos: a eleição presidencial francesa nunca foi tão imprevisível e inusitada.

Além de sua importância crucial para o futuro da União Europeia, a eleição presidencial francesa de 2017 chama a atenção por uma série de aspectos inusitados na história da Quinta República.

Esta é, por exemplo, a primeira eleição em que o atual ocupante do cargo não busca a reeleição. O presidente François Hollande é tão impopular que abriu mão da candidatura.

Os dois principais partidos do país, o PS (socialistas) e Os Republicanos (direita) optaram em suas primárias por deixar de lado os seus rostos mais conhecidos: o premiê do governo Hollande, Manuel Valls, pelos socialistas, e o ex-presidente Nicolas Sarkozy, do lado da direita.

A apatia dos eleitores bate recorde. Pesquisas indicam que em torno de 35% não devem ir às urnas. Se o percentual se confirmar, será a maior abstenção da história. Na eleição anterior, em 2012, em torno de 20% não compareceram.

Tão sintomática quanto a apatia é a indecisão de quem vai votar. No início desta semana, cerca de um em cada quatro dizia que ainda pode mudar o voto. O número é ainda mais impressionante se forem consideradas as enormes diferenças ideológicas e programáticas entre os cinco principais candidatos.

Marine Le Pen representa a extrema direita. Emmanuel Macron é um ex-socialista que fundou um partido político há um ano, nunca concorreu a um cargo político, mistura posições de esquerda e direita e é percebido principalmente como o anti-Le Pen e pró-UE. Jean-Luc Mélenchon é da extrema esquerda, também ameaça deixar a União Europeia (como Le Pen) e promete taxar os mais ricos.

As pesquisas colocam Le Pen e Macron – dois outsiders – na liderança, o que também é inédito, já que tradicionalmente a direita e os socialistas lideram a corrida. Dependendo da pesquisa, o terceiro colocado também é um outsider: Mélenchon.

Completam a lista François Fillon, o candidato da direita, que oscila entre a terceira e a quarta colocação, e o socialista Benoît Hamon, quinto colocado. Os dois sofrem com a desconfiança de boa parte dos eleitores com os partidos tradicionais.

Se Macron confirmar o favoritismo que as pesquisas lhe dão no segundo turno, a França será pela primeira vez governada por um presidente que se apresenta acima da esquerda e da direita, algo notável num país onde a política é extremamente marcada pela dicotomia esquerda-direita.

Mas esta é também a primeira vez que o resultado segue totalmente imprevisível às vésperas do primeiro turno, com quatro candidatos mantendo boas chances de seguir adiante. Se as pesquisas estiverem certas, e Le Pen e Macron forem para o duelo final, será ainda a primeira vez que tanto a direita como os socialistas estarão de fora do segundo turno.

Mas o forte crescimento de Mélenchon nas últimas semanas e o grande número de eleitores que ainda podem optar pelo voto útil na última hora fazem desta a eleição presidencial mais imprevisível e inusitada na França em décadas. Além de ser a mais importante, pelos reflexos que pode ter na relação do país com a União Europeia.

Coluna Zeitgeist

DW – Deutsche Welle

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