segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Crise atual do Brasil é a pior desde 1929

Opinião

Para o economista do Santander Rodolfo Margato, a atual crise econômica do Brasil é a pior desde o “crack” da Bolsa de Nova York, em 1929. Segundo ele, todos os indicadores têm batido recordes negativos, e a estimativa do banco é a de que o PIB registre queda de 3,3% em 2016. Apesar do cenário, Margato afirma que já é possível perceber sinais de melhora nos índices de confiança da indústria.

Para Minas Gerais, as projeções são menos severas. A retração prevista é de 2,6%. “Está abaixo da média nacional devido à força do PIB agropecuário, sustentado pelo café, que é muito forte no Estado. Enquanto a previsão nacional para esse setor é de queda de 1,7%, para Minas a estimativa é de crescimento de 1,3%”, afirma o economista. Das 27 Unidades da Federação, Minas terá a terceira menor retração, atrás de Roraima e Paraná, empatados com -2,4%.


Brasil caminha para trás, rumo a mais uma década perdida
Número de novos desempregados é igual ao de novos inadimplentes no país: 3,2 milhões

QUEILA ARIADNE
A perda de empregos com carteira assinada é a maior desde 2002. Já o estoque total de desempregados é o pior dos últimos cinco anos. A quantidade de brasileiros inadimplentes é a mais alta desde 2012. Os alimentos nunca estiveram tão caros desde os anos 2000. E a taxa anual dos juros do cartão de crédito é a maior desde 1995. Com essa coleção de recordes negativos, o Brasil caminha para uma nova década perdida. Para o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato, a situação é pior do que a chamada década perdida dos anos 80 porque, agora, a perspectiva de recuperação é bem mais lenta.

“Tivemos uma recessão no inícios dos anos 80, com superinflação e juros internacionais muito altos, o que inviabilizou o crédito. Mas nos recuperamos. Depois, em 1990, na época do Collor, outra crise com o congelamento da poupança. Mas em 1994 já conseguimos nos recuperar. Agora trata-se de uma crise de endividamento. O governo não tem dinheiro para investir em uma solução e vai ter que depender de capital externo. Para tanto, tem que criar credibilidade, por isso está falando em mudanças sérias na Previdência. A previsão de recuperação é só para 2023”, avalia Salvato.

O professor de economia em MBAs da Fundação Getulio Vargas/Faculdade IBS Mauro Rochlin ressalta que, de fato, é o pior momento da economia brasileira. “O período dos últimos dois anos, com uma retração acumulada de 9% no Produto Interno Bruto (PIB), não tem precedentes. E essa crise começou muito antes, quando o governo começou a abusar dos gastos públicos e se endividar de maneira temerária. Isso gerou desconforto nos agentes econômicos, os investimentos foram suspensos, e o desemprego subiu. A inflação corroeu o poder de compra, e, onde tem desemprego e inflação, tem inadimplência”, explica Rochlin.

Relação direta. De acordo com levantamento da Serasa Experian, no primeiro semestre de 2016, o total de devedores alcançou 59,6 milhões de brasileiros. “São pessoas com pelo menos uma dívida vencida. Em menos de um ano, o volume de inadimplentes subiu 10%. E isso aconteceu por causa do aumento do desemprego”, afirma.

A economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) Ana Paula Bastos afirma que basta comparar o total de desempregados com o número de inadimplentes para confirmar a relação direta. Em relação ao ano passado, 3,2 milhões de pessoas entraram para o cadastro negativo. No mesmo período, segundo dados da Pnad do IBGE, 3,2 milhões de brasileiros engrossaram a lista dos desempregados.

“As pessoas não querem ficar inadimplentes porque ficam sem crédito. Mas com a inflação e o desemprego, elas estão estranguladas”, comenta Ana Paula. Só em Belo Horizonte, o total de dívidas em atraso subiu 4,11% em agosto, o pior resultado desde 2013. “É uma crise com origem em uma política fiscal errada, pois o governo deixou que o topo da meta da inflação virasse o centro”, critica Rochlin.
PIB per capita
Pior. De acordo com relatório do Goldman Sachs, em dois anos apenas, o PIB per capita encolheu 9,7%, mais do que os 7,6% acumulados no período chamado de década perdida, de 1981 a 92.

Jornal O Tempo



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