sexta-feira, 27 de maio de 2016

Liberalismo x bolivarianismo

Martim Berto Fuchs

As idéias liberais estacionaram por muito tempo nos teóricos que as desenvolveram no século XIX. Quando passaram para o século XX, se perderam na especulação financeira.

Os acumuladores de capital e sua ação predatória continua, tendo há longa data como clientes preferenciais os Estados governados por irresponsáveis e que garantem seus resultados crescentes. Governos estes apoiados por empresários “liberais”, mas que também querem “beber água” na mesma fonte dos governantes, o que muitos conseguem.

Agora, além dos grandes que tratam à nível de governo, também se faz presente no nosso dia a dia, seus filhotes, defensores do liberalismo especulativo, que tem como alvo os clientes individuais, pequenos poupadores, assediados diuturnamente com as promessas de lucros rápidos e garantidos, conseguidos através da circulação de papel pintado nas mais lindas cores, mas sem lastro na realidade, baseado apenas no mundo mágico do ilusionismo. 

Há uma clara diferença no meio liberal, entre os intelectuais, esses que não precisam gerir uma empresa nem colocar seu patrimônio em risco e vivem do teórico e para o teórico, e aqueles que produzem e precisam enfrentar o tal do “livre mercado”, onde a luta é desonesta, sem regras, e onde as teorias são esquecidas na guerra pela sobrevivência.

Estados com seus governantes imorais sempre houve, mas deles sempre participaram os empresários ditos liberais, e por esses mesmos governos foram sustentados muitos dos intelectuais do liberalismo, que neste caso não reclamaram do fato de escrever suas teses e expor suas idéias, enquanto mantidos com dinheiro público.

A revolução industrial na Europa, que mudou para melhor a vida no mundo ocidental, se fez com as novas invenções, capital e trabalho escravo. Mão de obra usada até o limite da resistência física, descartada, largada à míngua, e trocada por outra, sempre abundante.

O colonialismo praticado pelos monarquistas e liberais europeus em volta do mundo, começou arrefecer após a primeira guerra mundial, sendo substituído quase totalmente pelo modelo liberal e expansionista americano, que pouco mudou para os povos locais, sua situação de dependência.

Por incrível que pareça, essa prática escravocrata para o desenvolvimento, defendida abertamente pelos liberais ortodoxos da Escola Austríaca de Economia, idéias do século XIX, continua em vigor na mente estreita daqueles que defendem essa corrida de obstáculos, onde quem consegue ultrapassá-los,  usando de todos métodos legais e ilegais ao seu dispor, se dá bem. Quem não consegue, depois de laboriosamente usado, fica pelo caminho, nas mãos sabe-se lá de quem.

O Estado eles nem querem que exista, ainda mais que gaste o dinheiro arrecadado de todos, imposto sobre o consumo, para usar uma parte no atendimento dos que ficaram pelo caminho, seja por desgaste físico, por doença, por idade, ou por incapacidade física ou mental desde cedo.
Pudera, poderia faltar dinheiro para saldar os compromissos com os rentistas.

Mas esta moeda tem dois lados
Aí desponta no cenário um Marx, curiosamente ateu, mas sustentado por um cristão, Engels, filho de industrial, pregando a implantação aqui no mundo material da igualdade existente no mundo espiritual.
Para um ateu, o homem nasce, vive, morre e fim, não tendo alma, espírito ou o que o valha. Portanto, para ele Marx, ou o homem aceitava sua teoria, onde todos deviam ser robotizados e igualados na pobreza, ou teriam que enfrentar, como acabou acontecendo, os humores de Lenin, Stálin, Mao Tsé Tung, Fidel e outros dos seus cultuadores.

Dado a grita contra o capitalismo liberal e contra o marxismo, os novos pensadores criaram o capitalismo de estado, ornamentado com o pomposo título de bem-estar-social. Quer dizer, decretaram uma mudança na Lei da Gravidade, e determinaram que à partir dali todos deveriam ser classe média, e não mais igualados na pobreza.

Um dos precursores do capitalismo de estado, que se tivesse sido melhor estudado teria evitado muita decepção e desilusão, foi o populista Perón com sua desastrada intervenção na Argentina. Desastrada porque acabou com os resultados financeiros positivos que o capitalismo selvagem sempre consegue com seu modelo escravocrata, mas sem deixar em seu lugar um novo e duradouro legado para atender seus descamisados. Enquanto tinha dinheiro no cofre, ele distribuiu camisas, quando acabou, deram uma passagem só de ida para ele ir morar na Espanha.

No América Latina, numa versão típica de países de terceiro mundo, criaram o Foro de São Paulo e seu bolivarianismo. Esses governos, orientados pelas “mentes esclarecidas” da intelectualidade esquerdista, enterraram novamente a Argentina, soterraram a Venezuela que vai para a guerra civil e estavam enterrando o Brasil.

Independente de onde veio o ser chamado humano - esta criação pronta e irretocável segundo alguns, ou iniciado com a ameba como afirmam outros -, a verdade é que enquanto não atingir determinado grau próprio de evolução, continuará sendo usado pelos demais seres animais como “humano de carga”.

Se se apoiar nos liberais que temos, lhe sugam até a alma em nome do deus lucro. Se se apoiar no outro lado da moeda, nos “bondosos” socialistas bolivarianos, deve aceitar mugir em coro em troca de casa, comida e lavagem cerebral, também chamada de educação, ou vai antes para o matadouro.

A verdade é que os dois espectros ideológicos dominantes ainda se agridem mutuamente, seja em guerra quente ou guerra fria, disputando o serviço do trabalhador mantido ignorante por conveniência, que se pular da frigideira, cai no fogo.

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