sábado, 13 de fevereiro de 2016

Os oito pecados capitais

Konrad Lorenz

“Seria presunçoso acreditar que aquilo que cada um sabe não é compreensível à maioria das outras pessoas. O conteúdo deste livro é bem mais fácil de assimilar, em seu conjunto, do que o cálculo integral ou diferencial que todo aluno de curso superior é obrigado a aprender. Todo perigo perde muito de seu impacto assustador, se conhecemos suas causas.”

Resumo

1. A superpopulação da terra
, que leva cada um de nós a se defender da profusão de contatos sociais de uma forma profundamente desumana e que, pelo amontoar de numerosos indivíduos num espaço restrito, provoca inevitavelmente a agressividade.

2. A devastação do meio ambiente natural, que atinge não só o mundo exterior no qual vivemos, como destrói no homem todo respeito pela beleza e pela grandeza de uma criação que o ultrapassa.

3. A corrida disputada pela humanidade com ela mesma, que o desenvolvimento da tecnologia torna, para nossa infelicidade, cada dia mais rápida. Essa obrigação de exceder torna os homens cegos aos valores verdadeiros e os priva de tempo para pensar, atividade indispensável e humana por excelência.

4. O desaparecimento de todos os sentimentos fortes e de toda e emoção, devido ao enfraquecimento, e o progresso da tecnologia e da farmacologia provocando uma intolerância crescente a tudo o que possa provocar o mínimo desagrado. O desaparecimento simultâneo da capacidade humana de alcançar uma felicidade que só pode ser alcançada vencendo obstáculos, ao preço de muito esforço. O ritmo, estabelecido pela natureza, de contrastes balanceados entre o fluxo e o refluxo dos sofrimentos e das felicidades se atenua até uma oscilação imperceptível, acarretando um tédio mortal.

5. A degradação genética. Fora do “sentido natural do direito” e de alguns restos herdados do direito corrente, não existem, no interior da sociedade moderna, fatores de seleção capazes de exercer sua pressão no desenvolvimento e na manutenção das normas de comportamento, embora elas se tornem cada dia mais necessárias devido ao desenvolvimento da sociedade. É impossível que infantilismos, responsáveis pela transformação de numerosos jovens rebeldes de hoje em parasitas sociais, sejam de origem genética.

6. A ruptura das tradições, resultante do fato de termos atingido um ponto crítico em que as jovens gerações não conseguem mais se entender culturalmente com as velhas, e ainda menos se identificar com elas, passando então a tratá-las como um grupo
étnico estrangeiro e a enfrentá-las com um pódio nacional. As razões dessa perturbação da identificação originam-se antes de mais nada na falta de contato entre pais e filhos, o que já nos bebês provoca sintomas patológicos.

7. A receptividade crescente da humanidade à doutrinação. O aumento do número de homens reunidos num só grupo cultural, acrescido do extremo aperfeiçoamento dos meios técnicos levam a possibilidades, nunca antes atingidas na história humana, de influenciar a opinião pública e de criar uniformemente opiniões. Devemos além disso ressaltar que o poder de sugestão de uma doutrina, firmemente aceita, progride talvez em progressão geométrica em relação ao número de crentes. Já agora, em certos lugares, um indivíduo que se esquiva deliberadamente à influência da “mídia de massa”, da televisão, por exemplo, é considerado um caso patológico.
Os efeitos despersonalizantes desses meios são recebidos com prazer por todos aqueles que querem manipular as multidões. Pesquisas de opinião, técnicas publicitárias e uma moda habilmente divulgada permitem aos magnatas da produção – de um lado da cortina de ferro – e aos funcionários – do outro lado – exercer um idêntico poder sobre as massas.

8. O armamento nuclear, que faz pesar sobre a humanidade um perigo mais fácil de evitar que os sete processos ameaçadores descritos acima. Esses fenômenos de desumanização, dos quais falamos do primeiro ao sétimo capítulo, são favorecidos por uma doutrina pseudodemocrática que afirma que o comportamento social e moral do homem não é absolutamente determinado pela evolução filogenética do seu sistema nervoso ou de seus órgãos sensoriais, mas é influenciado unicamente pelo “condicionamento” sofrido ao longo de sua ontogênese em virtude do seu ambiente cultural.
Artigo publicado pela primeira vez em nosso portal a 10/05/2012.

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