domingo, 6 de dezembro de 2015

Islamismo ou Xiismo Versus Sunismo

Mario Guerreiro

“Sabe-se que os sunitas formam, hoje, o maior ramo do Islão: cerca de 84% do total dos muçulmanos.  A origem da expressão sunita pode ter derivado da palavra Suna (Sunna), que se refere aos preceitos estabelecidos no século VIII segundo os ensinamentos de Maomé e dos quatro califas ortodoxos [obs. minha:  khalif, em árabe, quer dizer: “sucessor” e, por extensão, de Maomé].

O termo também pode significar “um caminho moderado”, expressando uma posição mais neutra do que aquelas tidas como mais extremadas, como é o caso dos xiitas. [Mas o atual Estado Islâmico, que é sunita, tem se revelado a mais extremista das facções islâmicas, acrescento eu].

Estes implicam o segundo maior ramo de muçulmanos e consideram Ali, o genro e primo do profeta Maomé, como o seu sucessor legítimo e consideram ilegítimos os califas sunitas que assumiram a liderança da comunidade muçulmana após a morte de Maomé”. [Texto de Maristela Basso, reproduzido em Rede Liberal em 9/2/2015].

Só houve um momento de união entre os árabes e foi durante o governo do próprio Maomé. Com a morte do profeta, as dissenções se espalharam pelo mundo árabe.

Na realidade, não se pode falar em “nações” árabes, porque não há unidades nacionais, mas sim tribais e de facções religiosas, como os sunitas e xiitas.

No filme Lawrence da Arábia, de David Lean, bastante fiel à realidade histórica, o tenente do Exército Britânico, T.E. Lawrence, consegue realizar uma proeza digna de Maomé:

Consegue unificar as tribos árabes, mas não as fazendo a aceitar um deus único, Allah, pois isto Maomé já tinha feito há muito tempo, porém para expulsar os invasores provenientes do Império Otomano.

Os otomanos e/ou turcos eram de religião muçulmana, mas não de etnia árabe (um ramo da etnia semita).
Como se sabe, o Império Otomano (Turco) acabou depois da Primeira Guerra, com a fundação da República Turca,  mas durante a Guerra ele era aliado do Kaiser alemão e inimigo dos britânicos, por sua vez,  aliados dos árabes na Arábia Saudita e na Síria.
Expulsos os otomanos, foi feita uma grande reunião em Damasco (Síria). Lawrence, conhecido pelos árabes como El Orans e reconhecido como seu grande líder de guerra, propôs então a criação de uma grande nação árabe.

Imediatamente, um morubixaba de uma tribo lançou uma objeção: “Árabe? Eu não sei o que quer dizer isto. Eu sou da tribo X”. Seguiram-se outros morubixabas dizendo: “E eu sou da tribo Y” E outros ainda: “E eu sou da tribo Z, e assim por diante.
Unidos na guerra, desunidos na paz!,  assim são os “árabes”, nome que designa uma etnia semita, “irmãos” dos judeus e descendentes de Ismael, filho bastardo de Abraão com a escrava Agar, oferecida por sua esposa Sara a ele porque ele desejava um herdeiro, mas ela estava estéril, conforme diz a Torah(o mesmo que o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia).

[Como sabemos, a esterilidade e a impotência são dois motivos aceitos para o divórcio, não só no judaísmo como também nas três grandes religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo, na ordem da Revelação].

O Iraque possui uma minoria sunita, mas a maioria dos iraquianos é xiita, como uma maioria dos iranianos, embora estes não sejam de etnia semita, mas sim ariana. O maior país islâmico, a Indonésia, também não é de etnia semita, porém malasiana.

Por meio de “voto declarado”, Saddam Hussein, que era sunita, assumiu o poder e o exerceu de forma totalitária perseguindo os xiitas. Acabou provocando uma guerra sangrenta contra o Irã. Much ado about nothing! (Muito barulho por nada)!

Com a ocupação do Iraque pelos americanos, Saddam Hussein foi deposto, julgado por uma corte de Justiça iraquiana e condenado à morte na forca.

Mas a ocupação terminou quando o “grande estadista” Obama decidiu que o Iraque estava pacificado e tinha se tornado uma democracia.
[M’engana qu’eu gosto! Só haverá democracia em países árabes quando o Saci andar de patinete, embora formalmente a Turquia e a Jordânia sejam democracias, como a Venezuela o é a seu bolivariano modo].
E tanto era assim, como julgava Obama, que tinha havido uma votação secreta – ao contrário do voto declarado dos tempos de Saddam Hussein – e o partido deste mesmo, o Baat (sunita) tinha perdido as eleições. Coisa que não é de surpreender, uma vez que os shiitas sempre foram a maioria no Iraque.

Assumiu o governo de transição Al-Malaki, mas que era de um partido shiita. Resultado: os perseguidos passaram a ser os sunitas.
[Parece até o cristianismo católico que, de perseguido na Antiguidade, passou a perseguidor na Idade Média. A Santa Inquisição, a heresia dos Cátaros e a dos Albigenses estão aí mesmo, para não me deixar mentir.
Conta-se que quando o exército do rei Filipe Augusto invadiu uma cidade do sul da França dominada pelos cátaros, o comandante da tropa de invasão, conde Simon de Montfort, foi procurar o bispo supervisor da mesma alegando que não sabia distinguir quem era e quem não era cátaro.

E o piedoso bispo deu uma resposta direta: “Mate-os todos! Deus saberá reconhecer os seus”. [Upa-lê-lê! Este bispo parece até um líder terrorista muçulmano].

E é como eu sempre digo: quando os árabes não têm nenhum inimigo externo – como o Império Otomano na Primeira Guerra – eles brigam com eles mesmos, sunitas contra shiitas. Os dois consideram, um ao outro, como infiéis.

Segundo penso, islamismo é um flatus vocis, o que existe na realidade é sunismo e xiismo, unidos apenas pelo mesmo deus, Allah, mas separados em tudo o mais.

Um general sunita de Saddam Hussein fugiu para o norte do Iraque e acabou fundando o Estado Islâmico, que é na realidade um califado sunita pretendendo retomar os grandes califados d’antanho, como o Califado de Bagdá (Iraque).

E o Califado Islâmico se estendeu para o leste da Síria, estabeleceu sua capital  em Raka, mas pretende se expandir por todo o mundo árabe com franco apoio da sunita Arábia Saudita, patrimônio perpétuo da dinastia Saud que nem a dos Kim na Coréia do Norte.
Hitler dizia: “Hoje a Europa, amanhã o mundo”, e o morubixaba do Estado Islâmico bem poderia ter dito: “Hoje parte da Síria e do Iraque, amanhã o Oriente Médio e depois de amanhã a Europa” e depois,Insh’Allah!, o mundo.

Se você não está com medo, é porque não leu – ou leu mas não levou a sério – Samuel Huntington: O Choque de Civilizações e Guy Sorman: A Invasão dos Bárbaros.

Em meu ver, um título que ficaria melhor, para a obra de Huntington, seria: A Barbárie Islâmica Contra A Civilização Ocidental.
Estão aí mesmo os massacres das Torres Gêmeas e o de Paris, só para não me deixar mentir. E isto para não falar nos pescoços não-sunitas degolados pelo Califado em Raka e outras cidades da Al-Jazira(nome árabe do norte da Mesopotamia e, posteriormente, de um famoso canal de TV árabe).

Boa parte da Síria é comandada pelo ditador Bashar Al-Assad, tão ou menos xiita quanto o Ayatolah do Irã. Não é de surpreender, portanto, que o Estado Islâmico sunita, também conhecido como Isis, que estabeleceu sua capital em Raka (Síria), esteja combatendo o regime de Al-Assad.

Com os democratas no poder, Obama combate toda e qualquer ditadura no Oriente Médio e redondezas. Interviram na Líbia e depuseram Kadhafi e o que aconteceu com a queda do facínora líbio? O caos, com muitas facções rivais brigando umas com as outras pelo poder totalitário.

Obama apoiou a revolta da Praça Tahir (Cairo) e uma ditadura foi substituída por outra, a da Irmandade Muçulmana (facção terrorista). E a Primavera Árabe da Hilária Clinton transformou-se no Inverno da Nossa Desesperança de John Steinbeck.

Finalmente, Obama decidiu combater, ma non troppo, a ditadura de Bashar Al-Assad fornecendo armas para os guerrilheiros sunitas. E combater os sunitas do Isis, mas por meio de ataques aéreos cirúrgicos, uma vez que o “pacifista” e “politicamente correto” Obama recusa-se a pôr boots on the ground.

Ora bolas, isto é o mesmo que dar um chutão num grande formigueiro. Imediatamente, as laboriosas formigas operárias começam a trabalhar, em breve tempo os reparos serão feitos e tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes.

Mas o “pacifista” Obama não bombardeia os grandes poços de petróleo e os meios de transporte do mesmo, principal recurso econômico do novo Califado, que ele vende a preço abaixo do preço de mercado e sem o qual ele se torna incapaz de sustentar uma guerra.

Nunca me esquecerei daquele óbvio ululante proclamado por um general naquele filme sobre a Guerra de Secessão americana: “Um exército, para lutar, precisa comer”, dito diante da falta de suprimento para seus soldados.

Mas nem Obama nem Hollande, nem mesmo Putin, perceberam esse óbvio, “que grita e esperneia diante de seus olhos e ouvidos”, como diria o saudoso Nelson Rodrigues.

Por que não? Não posso censurar quem pense que Obama é “parente” de Osama, na realidade um grande Muslin-lover, como certamente Benjamin Netanyahu o vê, principalmente após seu acordo nuclear com iranianos carentes de credibilidade, colocando em sério risco a segurança no Oriente Médio.

Obama fornece armas para os sunitas sírios e iraquianos derrubarem a ditadura shiita de Al-Assad. Suponhamos que consigam? A Síria terá uma democracia? Nunca! Tomará o poder uma facção sunita aliada do Estado Islâmico, para fortalecer o mesmo!

É por isto que Putin – que de democrático nada tem, mas é uma raposa política das mais felpudas – bombardeia o Estado Islâmico e os rebeldes sunitas sírios, enquanto aliado de Bashar Al-Assad. “Se é para a Síria ter sempre um ditador, fico com o que aí está e com quem tenho feito bons negócios”, deve ter pensado o novo czar da Rússia.

Como os tempos mudaram neste período de pós-guerra fria! O Presidente dos Estados Unidos é “socialista” e “pacifista” e o manda-chuva da Rússia está mais preocupado com o gasoduto russo, grande fonte de renda para seu país.

A Voz do Cidadão



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