quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A politização da política: o protagonismo do povo

Patrícia Bueno

As ruas brasileiras já não têm mais dono. Finalmente são públicas, pertencem ao povo brasileiro. Despiram-se das vestes únicas que, vermelhas, mostravam o domínio de bandeiras indicadoras apenas do lado esquerdo de uma sociedade plural.

A política das vias não pertencia ao povo, mas a poderosas organizações financiadas por contribuições sindicais e de funcionários, no mais das vezes públicos, defensores de privilégios. A força econômica do sindicalismo, do peleguismo e dos ditos movimentos sociais finalmente foi posta a prova em desfiles cívicos não planejados. Nós, os comuns, nos fizemos representar nos passeios.

Os protestos de 2013, inicialmente organizados pelos mesmos de sempre, acabaram por reunir cidadãos de todos os matizes ideológicos. Naquela ocasião, chegou-se a afirmar que o “gigante acordara”. Sim, o diagnóstico estava correto.

O debate público, até então dominado por profissionais da política, passou a contar com seu protagonista ausente. Governava-se em nome do povo, falava-se em nome do povo, mas o povo referido era aquele amestrado por verbas. Era um povo fabricado que, como os políticos, era pedinte habitual de privilégios. Atualmente, não mais há monólogo e a força verdadeiramente popular, mais do que bandeiras, rejeita os rótulos pré-fixados. Expõe-se nas ruas, exprime-se nas redes e pressiona os eleitos.

Divorciada do eleitorado, a classe política acreditou que o governo democrático se exercia com passaporte para desmandos. Pensou que as instituições eram formadas por capachos que deveriam apenas legitimar os abusos cometidos e chegou inclusive a confundir política com politicagem. Mas ao povo essas ideias não servem. A população, até então desatenta, acompanha a responsabilização pelas leis descumpridas. Exige ética, moralidade e, claro, um bom governo. 

Desesperam-se os políticos. O antigo modo de governar caducou e eles nem mesmo conseguem manter os ulteriores acordos. A briga é intensa. Afrontam-se e acusam-se mutuamente. Gritam uns: estão politizando o debate! Acrescentam outros: é golpe!

Certamente é golpe. Golpe certeiro na politicagem. O povo agora participa da política.

Patrícia Bueno
Mestre em Direito político e econômico e diretora-executiva do Movimento Endireita Brasil.
Instituto Liberal



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