sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

As lágrimas de Dilma não me convenceram…


por Carlos Newton

A presidente Dilma Rousseff chorou na cerimônia de entrega do relatório da Comissão Nacional da Verdade. Havia motivos para se emocionar, claro. Mas é preciso que se faça uma reflexão a respeito.
Não há dúvida de que era necessário criar a Comissão, para investigar e denunciar as barbaridades cometidas pela ditadura militar, embora tenha trazido poucas novidades, já que quase tudo já havia sido revelado nos trabalhos de organizações como a “Tortura, Nunca Mais” e da própria imprensa, com destaque para o recente esforço investigativo do excelente jornalista Chico Otávio, em O Globo, que revelou importantes informações que a própria Comissão da Verdade ainda não conseguira encontrar.

INVESTIGAÇÃO PELA METADE
Mas é lamentável que o governo tenha feito uma investigação pela metade, que deixou de fora os excessos e as atrocidades cometidas pelos integrantes da luta armada, que jamais lutaram pela redemocratização do país, mas apenas para implantar outro tipo de ditadura, no estilo cubano, com paredón e tudo o mais, e não me venham com chorumelas, porque eu estava nessa, sou testemunha ocular da história, tinha 20 anos na época e estudava/militava na Faculdade Nacional de Direito aqui no Rio, que era um dos focos da luta contra a ditadura. E podem pegar o histórico existente em meu nome nos arquivos da ditadura, registrando minhas atividades subversivas, por assim dizer. Sei que existe, mas nunca me interessei em ver nem aceitei a Bolsa Ditadura que me foi oferecida por um dos filhos de Nélson Rodrigues, que era presidente do Sindicato dos Jornalistas.

VERSÃO ALTAMENTE FANTASIOSA
Agora, num passe de mágica, a Comissão Nacional da Verdade quer alterar os fatos históricos para fazer acreditar que lutávamos pela retomada da democracia. Isso é ridículo. Nenhum dos sobreviventes de 1964, que tenha um mínimo de dignidade, pode aceitar esta versão fantasiosa e patética.
O relatório da Comissão quer derrubar a Lei e pretende alterar a posição do Supremo Tribunal Federal que reconheceu, em 2010, a anistia dos “crimes conexos” praticados pelos agentes da repressão. A justificativa é de que a Lei da Anistia foi um ilícito internacional que perpetua a impunidade.
Em 2010, ao julgar uma ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil, o Supremo afirmou que uma lei que disciplina determinados interesses imediatos e concretos, como a Lei 6.683/79, que fundamenta a anistia, deve ser interpretada a partir da realidade que motivou sua aprovação pelo Congresso. Simples assim.

PRENDER ALGUNS POBRES DIABOS…
Bem, se desta vez a Lei da Anistia for revogada ou houver entendimento de que não abrangeu todo tipo de crime, poderemos enfim prender alguns pobres diabos (merecem a denominação), desequilibrados caquéticos e totalmente desmoralizados, como o coronel Brilhante Ustra e outros meia dúzia, que já estão mais mortos do que vivos.
Será, enfim, feita justiça! Mas ficará faltando fazer justiça aos inocentes que pagaram com a vida pelos excessos cometidos pelos guerrilheiros da luta armada. Inclusive, alguns militantes injustamente justiçados, sem direito de defesa.
Por isso, não me convenceram nem me emocionaram as lágrimas de Dilma Rousseff, conhecida na luta armada pelos codinomes Estela, Wanda, Luíza e Patrícia. É exclusivamente dela a responsabilidade de nossa verdade estar sendo contada pela metade. Deveria chorar de vergonha.


Carlos Newton  -  Editor da Tribuna na Internet


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