domingo, 19 de outubro de 2014

Parte II - Bibliografia de pesquisas científicas de fenômenos espíritas

Luiz Otávio Saraiva Ferreira

DO MAGNETISMO ANIMAL AO ESPIRITISMO

As experiências com magnetismo animal e hipnotismo levavam os pesquisadores a depararem-se frequentemente com fenômenos que extrapolavam os domínios dessas disciplinas ( telepatia, visão com as pontas dos dedos, clarividência e outros), os quais suscitavam, dentre outras, a hipótese do espírito como explicação. Entre outros casos bem documentados que extrapolam as explicações do magnetismo animal e do hipnotismo, são citados abaixo os de Swedemborg, dos Shakers, de Andrew Jackson Davis e o Episódio de Hydesville, o qual colocou a hipótese do espírito em pauta definitivamente.

Swedemborg

Vidente sueco [1,3], que teve suas faculdades despertadas em 1744, em Londres, aos 25 anos. Foi um grande engenheiro de minas, uma autoridade em metalurgia, brilhante engenheiro militar, autoridade em Física e em Astronomia. Foi também zoologista, anatomista, financista e político. Conhecia profundamente a Bíblia. Escreveu várias obras [104,105,106], em que mistura narrativas de suas experiências mediúnicas, especialmente desdobramentos, a interpretações teológicas dessas mesmas experiências. Sob sua influência criou-se a Nova Igreja, a qual, segundo Conan Doyle [1], "converteu-se em elemento negativo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar como fonte e origem do conhecimento psíquico".
Os "shakers"

À mesma época, grupos "shakers" (refugiados religiosos da Inglaterra) se estabeleceram em comunidades nos EUA. Cultivavam o mediunismo, que chegou a manifestar-se em forma de transes coletivos durante sete anos consecutivos, após os quais os entes manifestantes, que se afirmavam espíritos, retiraram-se afirmando que retornariam em breve e então invadiriam o mundo, entrando tanto nas choupanas quanto nos palácios. Suas experiências, foram descritas em vários livros e artigos [109,110,111,112,113].

Andrew Jackson Davis

Grande médium vidente, clarividente, audiente, clariaudiente, psicógrafo e 
psicofônico [1]. Quando submetido a transes magnéticos ditou mais de 30 livros, intitulados coletivamente de Filosofia Harmônica e de Revelações Divinas da Natureza, que tiveram grande impacto nos EUA. Em transe apresentava o fenômeno de xenoglossia, embora fosse de parca instrução, e previu [107], antes de 1856, detalhes do automovel e da máquina de escrever, que seriam inventados várias decadas depois. Previu, em 1847, o aparecimento do Espiritismo [108], o que se daria no ano seguinte com o Episódio de Hydesville. 

O PERÍODO ESPIRÍTICO

Esse período vai do Episódio de Hydesville (1848) até as primeiras pesquisas de Sir William Crookes (1870), sendo a discussão da hipótese do espírito sua temática central, porém sem maiores envolvimentos da ciência oficial.
O Episódio de Hydesville
O dia 31 de março de 1848 é o marco inicial do espiritualismo moderno, conforme narrado por Conan Doyle [1]. A família Fox, de Hydesville, estado de Nova York, EUA, teve um caso de "poltergeist", que culminou com um diálogo através de pancadas entre a filha mais nova, Kate, de onze anos, e uma inteligência que se dizia o espírito de um caixeiro-viajante (cujos despojos foram encontrados apenas em 1904 [114]), que teria sido assassinado pelos antigos moradores da casa. Os fenômenos continuaram mesmo em presença de uma multidão de curiosos. Ocorreu assim a primeira manifestação pública de diálogo com os espíritos. Deflagrou-se uma onda de manifestações espíritas espontâneas e provocadas, que se espalhou inicialmente pelos EUA, e extravasou-se para a Europa e demais Américas.

Tamanha foi sua repercussão que suscitaram as primeiras pesquisas de cientistas sobre fenômenos paranormais, feitas na Universidade de Buffalo em 1851[131]. Concluíram eles pela fraude (estalos do joelho) das irmãs Fox. Esse resultado foi contestado por outros pesquisadores [1], de vez que as irmãs já haviam sido submetidas a inúmeras comissões de investigação. Os jornais das cidades de Rochester e de Nova York, daquela época, são fartos em artigos sobre esse episódio e outros que o sucederam, instaurando o Modern Spiritualism nos EUA. Elder Evans e outro " shaker" foram visitar as irmãs Fox em Rochester tão logo tomaram conhecimento das manifestações espíritas ocorridas com elas, e foram saudados entusiasticamente pelas forças invisíveis, que diziam que aquilo era o trabalho que tinha sido predito aos "shakers" quatro anos antes [1].  

As Mesas Girantes

Segundo Wantuil [4], em fins de 1850 os próprios espíritos sugeriram, através das batidas em código, que os experimentadores se colocassem ao redor de uma mesa, apoiando as mãos sobre ela e, ao ser proferida a letra do alfabeto adequada, a mesa levantaria um dos pés e daria uma pancada, formando-se letra-a-letra as mensagens que os espíritos queriam transmitir. Estava estabelecido assim o fenômeno das mesas girantes, que logo se popularizou nos EUA e, atravessando o atlântico, tornou-se o brinquedo noturno da moda nos salões Europeus. Deve-se esclarecer que o fenômeno das mesas girantes era conhecido nas antiguidades grega [81] e romana [82], embora tivessem caído no esquecimento posteriormente. Os fenômenos espíritas, de tão paradoxais, fizeram que a maioria dos cientistas que os estudaram se concentrassem na comprovação da existência, ao invés de procurarem descobrir os mecanismos naturais que os produziam.
Em meio a um clima de enorme desconfiança e, segundo Conan Doyle [1], sem qualquer conhecimento dos perigos e desgastes a que estavam se submetendo, Kate e Margareth Fox, as médiuns através das quais foi iniciada a onda de fenômenos espíritas, fizeram, a conselho das inteligências que se comunicavam através delas, demonstrações públicas nos EUA durante mais de vinte anos. Em 1871 Kate foi a Londres, sendo aí submetida a testes por, dentre outros, Sir William Crookes, o famoso químico descobridor do tálio e do tubo de raios catódicos. Há relatos de que nessa época chegou a produzir materializações luminosas. Margareth e Leah (a irmã mais velha) juntaram-se a ela pouco tempo depois. Tantas foram as pressões psicológicas sobre Margareth e Kate que suas faculdades entraram em declínio por causa de alcoolismo, e elas morreram no início da decada de 1890. Digno de nota é o livro de Leah Fox, que revelou-se a única das três a compreender as importantes implicações filosóficas e morais, para a humanidade, dos fenômenos com que lidavam [133].

As Mesas Girantes nos EUA

Em janeiro de 1851 o famoso jurista John Worth Edmonds, ex-senador, ex-juiz do Supremo Tribunal de New York, materialista confesso, declara-se convencido da realidade do espírito [116], após haver presenciado os mais diversos fenômenos de efeitos físicos e de efeitos intelectuais produzidos sob o mais rigoroso controle. O anúncio de sua conversão abalou profundamente a opinião pública norte-americana [4,113]. Aproximadamente à mesma época o ex- governador do Winscosin e senador N. P. Tallmadge, dentre outros homens célebres dos EUA, também declarou publicamente sua adesão ao espiritualismo, em função das provas experimentais da sobrevivência obtidas[4,113]. Em 1852 os professores W. Bryant, B. K. Bliss, W. Edwards, e David A. Wells, da Universidade de Harvard, após escrupulosos experimentos, publicaram um manifesto em apoio à autenticidade do fenômeno de levitação de mesas[4,130].

O primeiro presidente da Universidade de Cleveland, Rev. Mahan[134], sustentou a tese do fluido magnético para explicar os novos fenômenos, e o Dr. Robert Hare - professor de química da Universidade de Pensilvânia, fez uma série de experiências com fenômenos espíritas, iniciando com os métodos e aparelhos relatados por Faraday em seu relatório à Sociedade Dialética de Londres, e em seguida desenvolvendo seus próprios métodos e aparelhos, com o que se convenceu da realidade dos fenômenos em questão.
Em 1853 publicou um livro relatando suas experiências e conclusões [135], as quais apontavam a existência dos espíritos como causa dos tais fenômenos. Por isso foi praticamente obrigado a renunciar à sua cátedra na Universidade de Pensilvânia, e sofreu perseguições da Associação Científica Americana e de professores da Universidade de Harvard [1]. Além dos principais jornais norte-americanos, uma interessante fonte de consulta sobre fatos da época é o periódico "Spiritual Telegraph" [115], primeiro jornal espiritista do mundo. Tamanho interesse tinham despertado os fenômenos espíritas nos EUA, que alguns médiuns atravessaram o Atlântico e levaram as mesas girantes para a Inglaterra, onde logo o fenômeno era assunto de todas as rodas.

As Mesas Girantes na Inglaterra

Os primeiros médiuns americanos desembarcaram na Inglaterra em 1852, levando para la' os novos fenômenos [1,4], que a essa altura incluíam, além das batidas, as materializações, levitações, escrita direta, voz direta, psicografia, psicofonia, vidência, clarividência e outros. Foram feitas pesquisas pelo célebre matemático e filósofo Prof. De Morgan [136], que concluiu pela veracidade dos fenômenos. Faraday realizou pesquisas sobre as mesas girantes [137], concluindo que tudo se devia a movimentos inconscientes dos médiuns, embora houvesse casos registrados de movimentos das mesas sem contato dos médiuns, conforme réplica do marquês de Mirville [119] a Faraday. O assunto não mereceu maiores envolvimentos da ciência até 1869, quando foi nomeada uma comissão pela Sociedade Dialética de Londres.

As Mesas Girantes na Alemanha

O Dr. Kerner, que já havia estudado a Vidente de Prevorst, publicou um livro sobre as mesas girantes [103], e uma comissão de renomados professores da Universidade de Heidelberg, composta por Karl Mittermaier, Henrich Zoepfl, Robert von Mohl, Renaud, Vangerow, Carl von Eschemayer, Joseph Ennemoser, o Dr. Justinus Kerner, e o Dr. Loewe também pesquisou o fenômeno das mesas girantes, publicando um relatório a respeito [4,117,118]. As experiências com o fenômeno das mesas girantes na Alemanha logo ganharam espaço na imprensa francesa, estimulando a divulgação do fenômeno naquele país [4].


Luiz Otávio Saraiva Ferreira 

Agradecimentos
Este trabalho foi possível graças às preciosas fontes bibliográficas cedidas pelo Dr. Hernani Guimarães Andrade e Prof.a. Suzuko Hashizume, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobio-físicas, e pelo Eng.o. Alcivan Wanderley de Miranda Fo., do Instituto Labor, e pelo Prof. Dr. Aécio Pereira Chagas.

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