quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pouco santinho

por Sérgio da Costa Ramos

Não há campanha mais morna e deserta de atmosfera do que esta de 2014. Em dois quarteirões da Felipe Schmidt, não recebi um único “santinho”.  Por paradoxal que possa parecer, é um avanço.

O eleitor parece mais amadurecido e insuscetível de deixar-se influenciar pelos mantras dos candidatos. Anos atrás, recebi santinhos repletos de rimas pobres e ideias idem.
“Pra melhorar a cidade, vote no Joaquim Andrade.”
“Idoso, pra melhorar seu auxílio, vote no Abílio.” Ou, “Pra aumentar seu benefício, vote no Fabrício.”

Não eram exatamente esses os vocativos, mas frases adaptadas aos perfis locais. Como seria agora, uma exortação a um voto em Marina Silva:
“Pra acabar com a propina, vote na Marina”.

Suas excelências, os candidatos, não sabem mais o que fazer para atrair a atenção do telespectador ou do pedestre, empanzinado de máximas, slogans, adivinhações, rimas pobres e ricas, “buttons”, chaveirinhos, isqueiros, canetas e toda umasortida coleçõa de quinquilharias … tudo isso em meio a um mar de desencanto com a baixa política.

De minha parte, gostaria de ver tremulando entre os candidatos uma faixa depuradora, ainda que de sinceridade duvidosa.
“Vote num candidato justiceiro, aquele que não mete a mão no baleiro !”

Pois é disto que se trata. Aliviar o Tesouro do assédio permanente a que se vê subjugado, com as equipes de assalto requerendo suas “reeleições” no reino das estatais. Nunca se viu apego maior às cadeiras de espaldar alto do poder. Não há campanhas “feias”, em que “vale tudo”. “Feio” é perder.

“A reeleição fez mal ao Brasil”, admite o candidato Aécio Neves (PSDB). A constatação teria melhor validade se pronunciada por outra boca, posto que o instituto da reeleição foi obra introduzida na vida brasileira exatamente pelos tucanos. Dita assim, com esse pecado original, a frase soa como mais uma manifestação de horror à alternância: reeleição só é boa se é o “nosso” partido que a usufrui …

Uma eleição morna é sinal de evolução. Menos jograis e modinhas, mais avaliação e reflexão. Em países de democracia avançada, o dia da eleição transcorre em absoluta calmaria e, se em dia útil, nem feriado é.

Vivi em 3 de novembro em Nova York, dia de eleição presidencial, uma tgerça-feira. Afora um camelô vendendo buttons numa esquina, nada indicaria ser aquele o dia em que os americanos optariam entre Bill Clinton e o velho Bush, num país em que o voto é facultativo.

O presidente da República deveria ser apenas o funcionário público mais graduado, e não um Messias nos quais partidos cevados na “boquinha” arriscam todas suas esperanças de perpetuação no poder.

Quando este dia chegar, o Brasil estará salvo.

Sérgio da Costa Ramos

Transcrito do Diário Catarinense de 13 09 14.




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