segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A supremacia dos juros


por Paulo Rubem Santiago

No memorável documentário O longo amanhecer, de José Mariani, professor da Escola de Cinema da PUC-RJ, o mestre Celso Furtado, já bastante debilitado, responde ao diretor do filme, quando perguntado quem manda no país: “É essa taxa de juros de fantasia”. Recentemente, a partir de sua tese de doutorado, o cientista social Ricardo K. Iwata publicou “Ordem mundial e as agências de rating: o Brasil no contexto mundial de 1996 a 2010”, lançado pela Editora Senac.

Na obra, o autor disseca de forma didática as transformações da economia mundial nos últimos 40 anos, a passagem da supremacia do capital da esfera produtiva para a área financeira, destaca os agentes fundamentais desse processo, a consolidação das agências e seu papel doutrinário e quase ditatorial sobre as opções econômicas dos países que não estavam nos centros de decisões e origem dos grandes fluxos de capital mundo afora no período. Iwata transcreve depoimentos de diretores das agências nos jornais de circulação nacional, nos quais são ditadas regras e decisões que nossos governantes deveriam adotar para garantir melhores notas e, com isso, terem assegurados os mágicos investimentos estrangeiros.
Nessa linha, destaco outra obra: “Economia, dinheiro e poder político”, de Gerson Lima, editado pela IBPEX, de Curitiba. O autor, doutor em economia pela USP e ex-professor da UFPR, com rigoroso cuidado didático, analisa as questões macroeconômicas, nos capítulos fiscal, monetário e cambial, revelando, de modo preciso, as artimanhas engendradas quando da aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em 2000, considerada a linha de superação do vale tudo fiscal, administrativo e contábil, marca de anos e anos nas contas da União, estados e municípios.
Da análise de Lima percebe-se que o DNA da lei não é, exatamente, um sinal de qualidade para as contas públicas, mas sim a submissão de toda a gestão fiscal, da política de investimentos e da condução monetária do país a um único objetivo: consolidar, por meio de vários de seus artigos, a tese de que inflação se combate com juros altos (daí a supremacia desse mecanismo), tornando as despesas disso decorrentes soberanas e sem limite frente às demais necessidades e possibilidades de gastos públicos, sejam eles sociais ou de investimentos.
Direto, o autor denuncia a transformação de uma hipótese do campo monetário (inflação se combate com juros altos), controversa, inclusive, nos meios acadêmicos, em norma de lei, com mais dívida pública sempre que isso ocorre. Lembra que mesmo assim a LRF não foi cumprida quando determina caber a União submeter ao Congresso proposta para que se estabeleça o limite da dívida mobiliária federal. O autor de “Economia, dinheiro e poder político” analisa, ainda, o reinado do investimento estrangeiro e suas conseqüências no câmbio, nas contas de capital e no balanço de transações, defendendo cautela quando à sua livre circulação, que desestimula a poupança interna, para que nos protejamos de sua obstinação lucrativa, na renda fixa, gerando pressão de juros e baixo investimento na produção.
Furtado, Iwata, Lima e tantos outros revelam o nó que o país tem a obrigação de desatar a partir de 2015. A supremacia dos juros é uma ditadura que torna mais ricos os que já detém maior parcela de riquezas no país e no mundo.

Transcrito do Congresso em Foco de 15/11/2013.


Comentário do blog:
E por que não conseguiram desatar esse nó até hoje ? Porque nossa Corte, Monarquia Republicana, não pode viver sem MUITO dinheiro para suas orgias, fausto, “multiuso” do dinheiro público, não importando de onde venham os recursos, se dos impostos ou dos investidores nacionais ou estrangeiros e sendo destes, requerem lucros garantidos.

Não será com a mudança da Lei de Responsabilidade Fiscal que iremos mudar o quadro de eterna dependência. Para início de conversa, nossos “governantes” não respeitam lei alguma, estão acima delas e disto já deram provas.

Essa história que os governantes nos contam de que aumentam os juros para conter a inflação está mal contada. A taxa básica de juros, atualmente, acompanha a inflação em curso mais a remuneração do capital. Se não aumentarem a Selic em função do aumento da inflação, o pessoal retira sua grana e vai aplicá-la em outros países onde inclusive recebem menos, porém com menor risco de calote, do qual somos pertinazes. Que o diga a PEC dos Precatórios, também conhecida como a PEC do Calote.

A falta de confiança na seriedade do governo brasileiro tem sido o calcanhar de Aquiles dessa questão dos juros. No entanto, dos males o menor. Passaram a acreditar um pouco mais no Brasil depois que tiveram um de seus empregados, Henrique Meirelles, à frente do Banco Central e que esse colocou ordem na casa, pois se o presidente Lulla agora no seu terceiro mandato, apenas exercido pela sua ventríloqua, tivesse colocado um dos “aloprados” do PT desde o início, estaríamos em situação muito difícil. Lulla não teria sido reeleito da primeira vez e nem seria mais candidato. E não gosto nem de pensar sobre as dificuldades que teríamos enfrentado.

Para mudarmos nossa situação de eternos devedores e estancar uma dívida que cresce de forma exponencial, só existe um caminho: precisamos procurar nossa Independência financeira – e é possível sim - e proclamar finalmente uma Republica Democrática, esquecendo das farsas que foram 1822 e 1889.

Ou paramos de sustentar uma monarquia disfarçada de república, à cada reinado mais desavergonhada, ou continuaremos refém da Oligarquia Financeira Internacional. Para eles, como está, está ótimo. Foi assim que Rothshild fez sua fortuna, às custas de governos monárquicos, devassos e irresponsáveis, onde qualquer semelhança com nossa eterna situação não é mera coincidência.



Nenhum comentário: