segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Vamos lá ! Coragem ! Mais de 80% dos brasileiros definem partidos políticos como corruptos.

O Bolsa-Partido

Sergio Costa Ramos

O parlamentar está diante do armário. Lá dentro, flutuam, suspensos nas ombreiras dos cabides, ternos de impecável corte. Cada um com um distintivo diferente.
Ora é do volátil PTB, ora do sobrevivente PP, ora do PQC, o “Partido Qualquer Coisa”. Às vezes é de algum partido novinho em folha, recém formado na esquina.
Há partidos que já mudaram de nome várias vezes. O PL agora é PR (Partido da República) e já perdeu a identidade, pois nem sabe direito como se chama.
O Demo já foi PFL, já foi PDS e agora está se mudando de mala e cuia para o “versátil” PSB, cujo dono é o presidenciável Dudu Campos.
De dez em dez minutos  surge um partido novo e os trânsfugas vão mudando de camisa e de cueca – aquelas com carteira embutida, própria para guardar dólares.
E há ainda os inconspícuos e os inomináveis, como o Partido dos Peixinhos, os socialistas de todos os matizes, o Prona – sem o Enéas – o Partido dos Aposentados do Brasil e mais um sem-número de partidinhos e partidecos, como o PTB do B, o PUM e o PAC – que até parece um partido, mas não é.

Nem mesmo esses arremedos de partidos – os de verdade e os de mentirinha – sabem dizer o tamanho de suas próprias bancadas. Elas mudam no raiar de cada nova aurora, sob a luz negra do fisiologismo.

Se há algo que as ruas ainda precisam mudar é essa volatilidade partidária, esse infamante troca-troca, que não existe em nenhuma democracia acreditada do mundo civilizado.
Uma vez eleitos, os parlamentares – com as honrosas exceções que confirmam a regra – rompem os seus vínculos com os eleitores, vestem um paletó novo e vão tratar do seu bolso e do seu “negócio”.

Não há mácula maior para o Poder Legislativo do que essa sórdida volatilidade da “Bolsa Parlamentar”. Pior: a extinção desse comércio não acontecerá tão cedo, pois caberá aos próprios vendilhões operar a reforma do templo.

Depois de penosas tentativas, o Congresso aprovou uma lei que moralizaria a vida partidária. A dita “cláusula-de-barreira” mediaria o tamanho e a seriedade dos partidos, contabilizando os seus votos em pelo menos nove Estados, nos quais as agremiações viáveis deveriam somar ao menos 5% dos votos.
O STF derrubou a cláusula moralizadora, considerando-a inconstitucional.
Constitucional mesmo é o partido de aluguel que providencia suas “atas” no café da esquina e depois negocia os segundos de televisão a que tem direito na lamentável arenga do horário “gratuito”.

(Transcrito do Diário Catarinense de 18/07/2013.)


Comentário do blog.

A sátira do articulista no artigo acima é mais do que procedente, pois é o que ocorre na vida real.
Apenas, o Sérgio Costa Ramos ainda acredita – “Se há algo que as ruas ainda precisam mudar é essa volatilidade partidária, esse infamante troca-troca, que não existe em nenhuma democracia acreditada do mundo civilizado.” – na possibilidade de corrigir-se o sistema baseado em partidos políticos.  
Diria apenas que antigamente eles eram baseados em ideologias – o que já antagoniza os eleitores de forma permanente – e hoje são baseados no mais puro fisiologismo, o que os torna inúteis, perniciosos e perigosos. Não precisamos deles para exercer a plena democracia, principalmente na escolha de candidatos à candidato à cargos eletivos, selecionados pela sua qualificação e não impostos pelos donos (capos) dos partidos.

Pesquisa Ibope divulgada - levantamento concluído em março - pela Transparência Internacional, apura que 81% dos brasileiros consideram os partidos políticos “corruptos ou muito corruptos”. Isto quer dizer que quatro de cada cinco pessoas põem em xeque a base de representação política do país. Isto no Brasil.
À nível internacional, pesquisa em 107 países, 65% afirmam o mesmo: “são corruptos ou muito corruptos.”

Em entrevista ao “Estadão”, o cientista político, filósofo e escritor espanhol Manuel Castells, reafirma sua convicção de que o sistema político apoiado em partidos políticos já deu o que tinha que dar. Está na hora, diz ele, de pensar um novo sistema, não mais baseado na partidocracia.

Portanto, vamos lá ! Coragem ! Está na hora de encararmos esta questão de frente. Não se trata mais de debater se partidos políticos ainda servem para alguma coisa, além de facilitar a manutenção do status, da ladroeira do dinheiro dos impostos e outras selvagerias que cometem CONTRA a sociedade que teoricamente representam.

O que temos de discutir antes da Copa do Mundo do ano que vem, 2014, para então voltarmos às ruas e exigir um debate nacional à nível de Congresso, é um novo Contrato Social, onde a democracia seja exercida e representada SEM mais a participação de partidos políticos para que tenhamos a oportunidade de realmente viver numa República Democrática e não mais numa Monarquia Republicana.

Só então teremos uma verdadeira Proclamação da República, 125 anos defasada daquele golpe perpetrado por um grupo descontente, que apenas trocou seis por meia dúzia, e sob cujas regras até hoje somos subjugados e explorados - sempre em prol dessa minoria - cujo único deus é o Poder e o dinheiro que ele “permite entrar” em seus bolsos e nas suas contas nos paraísos fiscais.



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